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OPINIÃO: Normalidade

Há, justificadamente, noção geral de que no Brasil o ano consciente e produtivo se inicia somente após o Carnaval. Trata-se de tradicional percepção coletiva difícil de ser desconstituída, logo pela sua procedência e recorrência.

Se é certo que os costumes peculiares, quase que exclusivos do povo brasileiro, a exemplo da procrastinação que acabei de citar, são inegáveis, até tolerados e tidos por naturais, também o é o fato de que não se trata da única das nossas atávicas e previsíveis práticas.

Vejam os governos quando novos...

Invariavelmente, se apresentam imediatamente após a investidura no poder com, por primeiro, manifestações oficiais públicas vislumbrando mais o efeito midiático do que a possibilidade de execução ou mesmo a necessidade e, ainda, resultado.

As ideias inovadoras, então, não resistem por tempo relevante às críticas que antes emanavam das oposições (tanto a responsável como a derrotada) e da pressão dos veículos de comunicação. Hoje, o achaque é compartilhado pelas opiniões nas redes sociais a fazer coro (não mais que isso) ao que imprensa e sítios de toda a grandeza, interesse, origem e intenção, induzem a ser replicado.

Tudo isso é coisa nossa, parte do nosso jeito de ser, reagir, vermos a nós e ao país.

Um ou outro dos governos em princípio de gestão foram capazes de defender suas bandeiras de campanha, mesmo ao desabrigo destas simpatias para além de alguns meses.

E eis que, tal qual o retorno à vida real após o fim da festa, vemos o tradicional dobrar de joelhos de um governante ao sistema politiqueiro de troca-troca para, minimamente, viabilizar o que entende necessário por sua perspectiva de governança.

Após assinatura de decretos, rechaço a empresas jornalísticas por declarações contundentes em voz grave imperativa, mais um presidente começa a se amansar diante do designado quarto poder. Ora, já chama dirigente e jornalistas outrora renegados ao café da manhã, onde se acena com a possibilidade de arrefecimento nas palavras dedicadas ao chefe da nação em nome de anúncios pagos com dinheiro público.

Os ministérios de Estado, outrora compostos exclusivamente à luz da técnica, da capacidade ou, quando muito, da fidelidade em campanha, já se fazem permeáveis aos congressistas dispostos a votar com o governo estabelecido, a propósito das medidas que este entende imprescindíveis ao bem do Brasil. Claro, ao custo de cargos mil, de primeiro e segundo escalão.

Uns em mais, outros em menos tempo, todos os governos e seus agentes vieram a reverenciar a tradição do espúrio ato de adular as redes de comunicação e comprar os parlamentares de todos os partidos.

Tradição nossa, normalidade reestabelecida. 

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